12/07/2009

Gitanos




Pra quem costuma vir aqui me visitar, peço uma licença pra fazer esse texto-homenagem ao flamenco, às minhas professoras e amigos de baile.


Não me lembro bem como foi que isso começou. Lembro de um dia acordar e colocar na minha lista de coisas a fazer: "procurar uma escola de flamenco". Eu já conhecia a arte mas até então não tinha como objetivo fazer parte dela. Dois dias depois eu estava fazendo a aula teste e algumas "plantas e golpes" depois, pensei comigo: eu pertenço a esse universo. Foi assim que eu achei o CAF (Centro de Arte Flamenca) e conheci minha primeira professora, mestra, bailaora completa, a Lu Garcia. Linda e talentosa, com uma história de vida que logo me comoveu e trouxe afinidade imediata, gerada pelas coincidências da vida.


O primeiro espetáculo, Faces, foi mais do que suficiente pra saber que eu queria muito aprender mais e mais e que eu já estava contagiada pela magia do flamenco. Subir ao palco não foi das coisas mais fáceis, mas depois deu aquela sensação de "consegui", acho que deve ser igual a de quem salta de pára-quedas, ou tenta superar os medos praticando algum desses esportes radicais. O frio na barriga é de congelar, acredite.


O clima e a energia dos bastidores é algo inexplicável, uma adrenalina meio doida, tensão com medo do palco e de errar a coreografia, entusiasmo com a movimentação de músicos, técnicos, professores, diretores, todos enlouquecidos porque alguma coisa (ou várias) sempre dá errado.


Mas pra mim, o momento mais bacana é dos preparativos no camarim, quando estamos nos arrumando para a apresentação. A quantidade de maquiagens, sprays, escovas e acessórios é um verdadeiro arsenal de guerra. Ajudas mútuas pra entrar na roupa, corrigir a maquiagem, colocar os cílios postiços, ajeitar o cabelo e de quebra um conserto de última hora no figurino, que ficou pronto aos 45 do segundo tempo e ainda deu defeito. Respira.... respira... sempre tem uma santa com um kit de agulha e linha. Esse ano foi a Desiree. Obrigada!

Resolvi ainda me aventurar na castanhola e aí vi que é possível sair do nível “Sem-Noção 1” para o “Sem-Noção 2”. Calma, não é impossível, mas estudar e praticar um pouquinho por dia ajuda e faz bem. Como meu tempo fora das aulas fica dedicado a outras mil coisas, acho que ainda preciso de mais aulas e da paciência das minhas mestras. Primeiro da Lili, queridíssima, com quem dancei minha primeira sevillana com castanhola, e que nesse ano participou da segunda, dessa vez cortejando a Ana Paula. A Ana será um parágrafo a parte.



Quando a Lu comunicou a turma de que mudaríamos de professora (a Ana), primeiro o silêncio, depois as manifestações... havíamos ouvido os rumores da sua personalidade difícil e conduta exigente. Entre dúvidas e questionamentos, eu só sabia que o flamenco era o meu refúgio, o lugar onde eu conseguia parar de pensar no mundo lá fora e me dedicar apenas a mim mesma naqueles 60 minutos, e eu não queria perder isso.

Posso dizer que o curso de abanico foi meu test drive com a Ana e percebi que aquela bailaora tinha muito a oferecer. Chance dada, as aulas se tornaram desafios e um mergulho ainda mais fundo na arte que eu havia escolhido anos atrás. O flamenco passou a ter uma importância maior pra mim e a cada aula a Ana deixava sua paixão nos contagiar ainda mais.

Sim, a conduta exigente em suas aulas ainda estava lá, o temperamento, por vezes tempestivo(!!), também. Mas a “figura carrasca” (palavras dela), havia ido embora, e dado lugar para uma mulher, em fase de crescimento contínuo, pessoal e profissional, mas sem dúvida mais madura, permitindo que seus alunos pudessem ver através do seu trabalho a sua imensa competência e uma bailaora excepcional. Que bom que eu fiquei pra ver isso e me beneficiar do seu talento. Ana, obrigada por me ensinar!

O flamenco ainda me trouxe amigos novos. Amigos que me encorajaram quando a rotina me consumia e eu quase desisti, que passaram a coreografia perdida pela falta inevitável e que me ajudaram a acertar aqueles detalhes. Ulla e Fê, um beijo especial pra vocês.

Fico por aqui, até o próximo espetáculo.

Besos!